top of page
Foto do escritorCarolíngio

Ano Novo Medieval

A Idade Média sempre está relacionada a sua ligação religiosa, e de fato, é impossível separarmos a religião cristã do homem medieval ocidental. Por outro lado, a modernidade trouxe ao estudo medieval uma ideia, totalmente errônea de que a Idade Média tinha pouquíssimas celebrações civis e geralmente eram festas em tavernas, com muita sujeira e bebedeira, típico dos estereótipos de filmes.

 

Basta de modificações tendenciosas e revisionismo histórico. A Idade Média sim, tinha grandes festas seculares e atraíam multidões de pessoas, movimentando a economia local e criando novas teias econômicas, sociais e até políticas. 


Também não podemos nos esquecer que o período medieval compreende em um grande recorte histórico, logo, temos uma infinidade de localidades, poderes seculares e tradições para serem analisadas. Generalizar a Idade Média é outro erro crasso que muitos costumam cometer.


Complexidades 


Por estarmos falando de ano novo civil, aplicam-se as regras seculares, afastando-se as regras eclesiásticas. Assim, portanto, devemos sempre fazer uma análise, que a influência da Igreja sobre os Estados, aplica-se de uma determinada maneira e sua organização e constituição enquanto instituição, é totalmente diferente. Há um diálogo, mas não há uma dependência, pois devemos lembrar que o calendário utilizado durante a idade média era o calendário juliano, uma grata herança de Roma. 


Inicialmente, grande maioria das celebrações de ano novo eram feitas no dia 25 de março - Dia da Anunciação, data em que o Anjo Gabriel aparece para a Virgem Maria. As ruas ficavam cheias de procissões, missas eram celebradas e a festa tinha mais um caráter religiosos do que civil. 


A partir da reorganização dos sistemas jurídicos após o século XI, com o reaparecimento da lei romana na maioria dos reinos da cristandade medieval, criando uma união e diálogo dentro dos códigos legais, 1º de janeiro torna-se a data oficial para a mudança do ano civil. Entretanto, ainda não era a regra oficial para certos Estados. Alguns ainda decidem manter as tradições ligadas ao calendário religioso ou outras datas. 


Em Veneza, por exemplo, celebrava-se em 1º de março, possuindo um caráter mais civil do que religiosos. 


Na Inglaterra, por sua vez, havia uma grande ligação com a religiosidade dos anglo-saxões: O Ano novo era celebrado no natal (25 de dezembro) e na Baixa Idade Média, altera-se para o dia 25 de março. Apenas no século XVIII, com o enfraquecimento da religiosidade da aristocracia, a forte ascensão da burguesia mercantil, na política, sociedade e economia, que a data civil é desvinculada da religiosa, adquirindo um caráter totalmente secular. 


A França, por sua vez, boa parte do período medieval ainda não tinha uma unidade. Devido seu tamanho e sua complexidade cultural, podemos separar a França pelo menos em duas grandes regiões: Aquitânia e o Vale do Loire, onde cada um tinha uma data diferente para as celebrações. Provença, que ainda não fazia parte da coroa francesa, também tinha um estilo diferente de demarcar a passagem do ano. 


A Festa dos Tolos 


A Festa dos Tolos era uma comemoração feita no começo de todo ano, do calendário civil. Muito comum na Europa ocidental. Era uma festa popular, onde as classes mais baixas se vestiam melhor, imitando as classes mais altas. Havia bastante festa, bebedeira, luxúria e até apostas. Naturalmente, estas festas podiam gerar algumas perturbações na ordem pública local. 


A Igreja e parte da nobreza local iniciaram estratégias para evitar a disseminação ainda maior destes costumes, principalmente nos centros urbanos. Durante o renascimento, no trecento e parte do quattrocento, era uma festa muito popular e perdurou até o século XVI. 


Representação da Festa dos Tolos

Outro Horizontes 


Quando analisamos locais importantes da cristandade, temos a presença das diversidades culturais aliadas aos costumes religiosos do cristianismo, que já estava enraizado na sociedade. 


Inglaterra: Havia um costume de troca de presentes durante o ano novo, para simbolizar boa fortuna. 


Primeiro Pé: Presente na Escócia e Irlanda, o “primeiro pé”, ou melhor, a primeira pessoa que adentrasse na residência, poderia simbolizar boa ou má fortuna para a família naquele ano. Dependerá muito das características de local e da cultura e imaginário popular. Era levado em conta características físicas e até psicológicas de quem marcasse o “primeiro pé”. 


Irlanda: O ano novo, conhecido pelos irlandeses como Oíche Chinn Bliana, “a última noite do ano”, havia uma forte tradição com o seu passado. As pessoas se reuniam, contavam histórias, relembravam dos mortos e dos entes queridos que se foram, os ancestrais e desejavam bons auspícios para o ano que chegava. 


França: Celebrado no dia 31 de dezembro, a festa de La Guiannee, está relacionado em praticar boas ações e manter vivo o espírito de comunidade vivo entre seus habitantes. Os pobres podiam pedir comida e bebida aos mais ricos e haviam comemorações de inverno. Cantores passavam de casas em casas para cantar e com o tempo as famílias começaram a se reunir para celebrar este novo ano que estava chegando. 


Polônia: O leste da Europa tem uma tradição de ano novo específico. Durante a noite da virada, era conhecido como Silvestre, em homenagem ao dia de São Silvestre, um santo que viveu no século IV d.C., sendo seu dia o 31. Grandes banquetes eram feitos, com muita festas e alegria. Pães eram sovados com anéis e pequenas cruzes dentro. Algumas tradições locais diziam que quem encontrasse um dos dois objetos, era um sinal sobre a sua vida vocacional: O anel representa a vida matrimonial enquanto a cruz, simboliza a vida clerical. 


Rus Medieval: Enquanto isso, os principados dos Rus, já bem ao extremo leste da Europa, além de grandes diferenças culturais quando comparamos com a Europa Ocidental, há também a questão religiosa: Os Rus eram cristãos ortodoxos e não latinos. 


Não havia unidade na comemoração do ano novo dos Rus. Haviam comemorações em diversos dias: 1º de março, 25 de março. A partir do século XIV, no ano de 1348, o ano novo passa a ser celebrado em 1º de setembro. O Czar Pedro, o Grande, irá unificar as celebrações no século XVII, transferindo-a para o 1º de janeiro. 


Os Rus celebravam a data com uma árvore de ano novo, Novogodnyaya Yolka, que deixaria de ser enfeitada apenas no dia 14 de janeiro. A festa também é marcada com uma grande produção de comida e bebida, em reunião com os familiares. Em algumas ocasiões, há inclusive a troca de presentes para simbolizar o afeto e desejar boa sorte. 


Iluminura de banquete de Ano Novo

 

Fonte 

 

Life in a Medieval City – Joseph Gies e Frances Gies 

Festa dos Tolos - Enciclopédia Britannica 

 

11 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

1 Yorum


Aladdin Salim
Aladdin Salim
há 12 horas

😍😍😍😍😍

Beğen
bottom of page