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Ásia e o Homem Ocidental

O História e Combate Medieval pela primeira vez, irá navegar por águas onde ainda não havia navegado. A Ásia. Os povos asiáticos, são um grande mistério para muitos aqui no Ocidente, inclusive muitos historiadores. E para isso existem diversas explicações plausíveis, como: a falta de bibliografia e fontes primárias boas para estudo ou disponibilidade de documentos e obras, historiadores ocidentais que não conseguiram criar uma boa interpretação ou efetuar uma boa leitura de determinado assunto, dificuldade com as línguas asiáticas, bem como incompreensão ao importar vocabulários, anacronismos e até ideologias para uma realidade histórica e geográfica onde jamais poderia estar presente.


Apesar de todo este desafio, nossa equipe resolve trazer aos leitores toda a riqueza da Ásia: A riqueza do Oriente Próximo, a importância cultural, religiosa, social, geográfica e política da Eurasia e dos povos que por aquelas terras habitam e um dia constituíram desde as tribos mais simples aos sistemas mais complexos de império, o próprio Oriente com os povos da Arábia, os Mesopotâmios, a divisão dos dois mundos com o início da milenar cultura indiana, de uma porção de massa geográfica continental, uma riqueza histórica sem limites, bem como os povos do extremo oriente: O gigantesco Império do trono de Jade Celestial, a China, bem como o Trono de Crisântemo, o Japão e o Trono da Fênix, da Coréia. Não poderíamos nos esquecer dos reinos que hoje compõem Laos, Tibet, Vietnã, que possuem histórias de grandeza e resistência aos titãs como a China.


Por fim, mas não menos importante, podemos abordar a riqueza dos povos das estepes e nômades: Os povos turquicos, que mudaram toda a estrutura do Oriente Próximo e da Ásia menor na Idade Média, criando dinastia como os Turcos Seljúcidas e os Turcos Otomanos. Mais ao norte, temos os alanos, que desde a antiguidade possuem registros. Nas grandes estepes do norte, os cázares, pechenegues e jurchen e mongóis compõem um dos principais grupos que sempre estariam presentes na instabilidade política de vários reinos importantes. Alguns, inclusive, abalando estruturas de um Império Milenar e criando novas dinastias, como no caso do Sultão Baybars que vai de refugiado das invasões mongóis a escravo e então Sultão, que lidera a vanguarda e sai vitorioso da Batalha de Ain Jalut, sendo a primeira grande derrota dos mongóis.


Seria impossível listar com cuidado a infinidade dos povos, reinos, tribos, etnias, religiões presentes dentro da Ásia, mas a missão da iniciativa será exatamente esta: Trazer o máximo de conteúdo para que possamos não apenas estudar e ter acesso a novos conteúdos, mas compreender melhor as dinâmicas sociais, econômicas, políticas, militares, religiosas dos povos da Ásia.


Como dito anteriormente, é necessário para o historiador e leitor compreender que muitas das leituras feitas sobre o Oriente é estereotipada e eurocêntrica, colocando os Asiáticos como povos inferiores (bárbaros), como Edward Said coloca sobre orientalismo, vemos o oriente pela ótica ocidental, se tornando um problema complexo. Mas essas leituras, ainda que problemáticas, são importantes, pois, conseguimos através delas compreender o imaginário Europeu, e hoje, conseguimos ter novas leituras e compreensões que podem desmistificar o Oriente e fornecer interpretações mais ricas sobre o passado.


Ásia: O nome Ásia nos remete a mitologia grega. De acordo com a tradição dos gregos, é uma das 3 mil oceanides, ou seja, filha do titã Oceano com sua irmã-esposa Thethys, como escreve o filósofo e matemático Apolodoro de Atenas. Ásia por ser uma Oceanide, era uma ninfa. Era também irmã de Líbia.


Casou-se o titã Iapeto e tiveram vários filhos, titãs, importantes na mitologia grega, destacando-se por ser mãe dos titãs Atlas e Prometeu, que foi gravemente punido por entregar os segredos do fogo a humanidade.


Mapas


Mapa Ga-Sur e o Egito


O mapa de Ga-Sur é considerado um dos mapas mais antigos da história da humanidade, tendo sido descoberto na região de Ga-Sur, feito em um tablete de argila cozida e data cerca dos anos de 2.500 a.C. É tão antigo que a precisão em encontrar uma data própria ainda é um grande desafio.


Busca representar os arredores do Rio Eufrates, localizado no Crescente Fértil, na Mesopotâmia, lar das primeiras civilizações e os acidentes geográficos próximos, criando uma divisão entre água, terra plana e montanhas.


Os egípcios, cerca de 1150 a.C., durante o reinado de Ramsés IV, produziram também um importante mapa: o Mapa do Papiro de Turim, que era um importante trabalho de topografia do Deserto Oriental, em direção a Península Arábica, a procura de arenito, utilizado nas estátuas do monarca.


Mapa de Anaximandro


O mapa de Anaximando, que viveu entre os anos de 610 – 546 a.C., é o primeiro mapa que cria uma divisão geográfica entre Europa, Ásia e Líbia, referindo-se a África. Possui o Mar Egeu como o centro da terra e também inova apresentando-se como a primeira produção cartográfica circular.


É um trabalho que abre ao homem uma nova realidade: Os mapas anteriormente eram regionais, como podemos ver nos babilônios e egípcios, representando o reino, regiões, estradas. Anaximandro abre um leque de oportunidades para exploração, navegação e política ao trazer para a Grécia, uma terra vasta habitada e não habitada.


Mapa de Erastótenes


Erastótenes, que vive no século III e III a.C., na cidade de Cyrene, incorpora informações aprendidas pelos gregos e macedônios como resultado das campanhas militares de Alexandre, o Grande.


Sendo um matemático e geógrafo incrível, suas contribuições são notáveis por ser o primeiro homem a calcular a circunferência da Terra e chegar bem próximo a seu valor real, bem como calcula e percebe a existência de um Eixo da Terra, projeta mapas de acordo com paralelos e meridianos.


Mapa de Ptolomeu


Tendo suas origens greco-romanas, Cláudio Ptolomeu, foi um mapa que revolucionou o homem ocidental e a forma de ver as outras terras. Elaborado cerca do ano de 150 d.C., teria grandes influencias no mundo árabe e bizantino.


Seu grande diferencial é a utilização de linhas de latitude e longitude, com especificações de localidades terrestres e até corpos celestes. Ptolomeu descreve com detalhes a Índia, a forma como o Ganges é importante e banha todo o subcontinente indiano e mapeia até o sudoeste da China.


Mapa de São Isidoro de Sevilha


Conhecido pela historiografia e pelos geógrafos como o Mapa Isidoriano ou o mapa do T e do O, são construções geográficas feitas pelo Bispo Visigodo de Sevilha no século VII, São Isidoro de Sevilha, presentes em seus trabalhos De Natura Rerum e Etymologiae.


O “T” representa o Mediterrâneo, o Nilo e o Rio Don, um grande rio da Rússia, sendo um dos maiores da Europa. Jerusalém geralmente era representada ao centro do mapa, tendo a Europa, África e Ásia como divisões dos continentes. Nota-se que a Ásia era considerada um continente muito maior que a Europa e África, em algumas interpretações, sendo considerada até tão grande como os dois continentes juntos.


Há interpretações errôneas de São Isidoro, alegando que sua leitura sobre a terra seria a de um disco, o que não passa de mera propaganda renascentista ou iluminista para desmerecer os trabalhos do clérigo.


Mapa Mundi Beato Liébana


O Mapa de Beato de Liébana, do século VIII, um monge asturiano, usou seus trabalhos com base na inspiração de São Isidoro de Sevilha, Ptolomeu e a Bíblia. A fonte primária original perdeu-se com o tempo, sobrando apenas as cópias, entretanto, levando em consideração a existência dos copistas, seu trabalho sobrevivera.


A Ásia é vista como um continente distante. Utiliza-se nomes antigos para referir-se aos lugares, como Assíria, Partia, Pérsia, Mesopotamia. Indica a Índia e as terras onde haviam coisas e cores diferentes do que o homem cristão medieval estava acostumado. Uma visão importante deste mapa, é que o Paraíso, com a Árvore da Vida, está na extremidade mais distante de toda a Ásia. Há uma grande mistura entre geografia e história da humanidade.


Mapa Mundi Anglo Saxônico


Datado do século XII, representa os três continentes em que estamos habituados a observar, entretanto, não faz alusão ao sistema cartográfico de Ptolomeu.


A Ásia está no topo, Jerusalém não está representada no centro, todos os rios da África estão em vermelho e suas montanhas em verde, e um bom detalhe aos detalhes da Ásia: Temos a Índia e o Sri Lanka, escrito como Taprobane. As únicas ressalvas deste mapa, são os tamanhos que muitas vezes não condizem com a realidade do local, entretanto, temos de lembrar que é um mapa anglo-saxão que nos traz detalhes até a Índia e Sri Lanka.



Viajantes


Heródoto


Um dos nomes mais importantes da Grécia, historiador e geógrafo, conhecido por ser o “O Pai da História”, além de ter feito diversas viagens escrevendo sobre lugares e os povos, podemos perceber algumas características curiosas em Heródoto.


Nascido e morando parte de sua vida em Halicarnasso, parte do Império Persa na época dos fatos, houve um fator que contribuiu para suas viagens e observação dos povos que estavam sob domínio persa. Vale ressaltar que Heródoto utilizou-se de um método muito parecido com o que compreendemos por investigação sistemática, sendo testemunha de diversos povos: Egípcios, persas, babilônios, fenícios, citas, dentre outros. Heródoto sempre faz um paralelo com os gregos, principalmente quando os povos destoavam bastante sobre suas próprias concepções de organização social e civilizacional, como é o caso dos citas, por exemplo.


Cosmas Indicopleustes


Cosmas, o Monge, viveu no século VI, era bizantino e foi um curioso viajante desconhecido pela maioria das pessoas. Viveu durante o reinado do Imperador Justiniano I e fez diversas viagens ao Oriente, mais especificamente para a Índia e o Sri Lanka. Também faz menções a visitas ao Reino de Axum, atual Etiópia. Passou parte de sua vida como mercador, o que explica estas viagens.


Suas diversas viagens são muito interessantes, inclusive estava na cidade de Adulis, no Golfo do Mar Negro, que pertencia ao Reino de Axum, que estava se preparando para fazer uma expedição militar contra o Reino de Himyar.


Seu estilo de vida rendeu-lhe o nome de Indicoupleustes, que significa “viajante indiano”. No final de sua vida, prefere retirar-se a uma vida de claustro no Sinai. Declarava-se Cristão Sírio, pupilo do Patriarca Aba I, onde escreve “Topografia Cristã”, o seu grande trabalho.

Mapa de Cosmas Indicoupleustes

Marco Polo


Marco Emílio Polo, mercador Veneziano, é uma das figuras mais conhecidas, seja pela construção de sua imagem histórica e mitológica, seja pelas suas viagens e seu legado. Viveu no século XIII e XIV, tendo sido influenciado por seu pai e tio, Niccolo Polo e Maffeo Polo. Podemos perceber neste cenário, que mesmo adentrando no trecento e quattrocento, há uma clara herança do homem medieval no mundo: Sabia que não estava sozinho e que havia um vasto mundo, para alguns, uma oportunidade para ser explorado e até uma razão para lucro, principalmente para as repúblicas mercantis italianas.


Viajando pela Rota da Seda, instala-se na corte de Kublai Khan, na China, uma mistura interessante das culturas milenares chinesas e mongol. Na distante Ásia, serve como diplomata do Khan, que é neto de Gengis Khan, sendo enviado para diversas missões diplomáticas dentro do Império Yuan e para outros territórios como Burma, Índia, Indonésia, Sri Lanka e Vietnã. Na viagem de volta, ainda acompanhou o Príncipe mongol Kokochin para a Pérsia, passam por Constantinopla e retornam para Veneza, distante da cidade dos canais por 24 anos.


Contribui com uma grande obra: Os volumes das “Viagens de Marco Polo” e sua variação “As Maravilhas do Mundo”, sendo obras de grandes debates históricos, pois suas traduções e organizações literárias tornam-se grandes debates acerca da visão europeia e das relações políticas dos grandes senhores da Ásia, principalmente da administração e da forma como Kublai Khan organizava e governava seu Império.


Portugueses


No séc. XV e XVI a procura pelas especiarias era uma das maiores fontes de riquezas e formas de monopólio. Portugal, isolado do comércio mediterrânico, circum navegou a costa do continente africano até chegar na Índia em 1498, na China em 1514 e no Japão em 1543. Nomes como Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque e Diogo Cão são importantes para se compreender através de relatos de cronistas que estavam nessas expedições marítimas.


Nos é importante salientar que Marco Polo já havia chegado na China e no Cipango (Japão) primeiro que os portugueses, mas os portugueses foram os primeiros a tentar impor sua mentalidade com missões de Jesuítas. Outro fator que nos é caro era a permanência do ideal cruzadista ainda presente nas navegações portuguesas, como nas lutas contra os muçulmanos em Ceuta (1415), Cochim (1505), Goa (1510) e em outras batalhas navais que aconteceram no oceano Índico, esse ideal podemos perceber através das crônicas. (CROWLEY)


Algo que se pode trabalhar com cuidado é a interferência dos portugueses nas conquistas militares de Nobunaga Oda no período Sengoku, os portugueses venderam bacamartes para Oda, o que acelerou o processo de conquista japonesa.


Novos Horizontes


Desta forma, o História e Combate Medieval passa a adentrar em limites antes não estudados por nossa iniciativa. Com o devido cuidado e observando as nuances culturais, políticas e sociais, buscaremos trazer aos leitores as mais ricas e prósperas culturas da Ásia.


Não poderíamos nos esquecer também, dos Quemeres ou Khmer, que compuseram um importante Império Khmer onde encontramos o atual Camboja, tendo sempre relações diretas e indiretas com a China e a Indonésia, com seu apogeu no século XI e XII.


A Coréia, apesar de sempre muito conhecida por sua polarização no século XX, principalmente com a Guerra da Coréia, sua polarização e divisão que perdura até os dias de hoje, vamos trazer ao público também um dos Estados que estava entre dois importantes senhores: A China e a Mongólia, bem como conseguiu imortalizar-se, resistindo a uma grande invasão japonesa organizada pelo samurai Toyotomi Hideyoshi.


Os mongóis, citados anteriormente, são povos das estepes que conseguiram alterar várias regiões ao longo de suas expansões territoriais: Abalaram as estruturas sociais e políticas de grandes impérios ao passo que abaram com a Idade de Ouro de outros e possibilitaram a abertura da ascensão política, militar, econômica e social de outros. As hordas mongóis, conseguiram abalar as estruturas das grandes religiões: Cristianismo Católico e Ortodoxo, o islã e o budismo na Ásia.


A Índia com toda sua riqueza do subcontinente indiano, com sua grande gama de cultura e de senhores, a terra das especiarias que faria Portugal buscar encontrar uma boa saída e que mudaria todo o cenário da Ásia e do Mediterrâneo do século XVI, também será abordada: Desde os assuntos mais conhecidos e famosos como o Taj Mahaj, o que é lenda e mitos, um pouco da crença milenar dos indianos, os Impérios que por alí passaram, composição da sociedade, das castas e dos exércitos que tentaram e conquistaram terras naquela região, bem como a grande rivalidade entre indianos e islâmicos.


A Ásia é um continente cheio de histórias, oportunidades e com a ajuda de descobertas, trabalhos, estudos, historiadores, cultura material e imaterial, nossa iniciativa agora adentra com o entusiasmo de Marco Polo nesta nova jornada.



Post feito em parceria entre Carolíngio e Alex Snyster.


Referências Bibliográficas


Edward Said - Orientalismo

Marco Polo – Viagens

Heródoto – História

Thomas Bulfinch – O Livro da Mitologia

Roger Crowley - Conquistadores

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